Faço a mala com a expectativa e a excitação que em mim sempre antecedem as grandes viagens, despindo do espírito todos os pesos e amarras para que fique a condizer com a roupa que levo: só algodões e linhos, tudo muito leve, fresco e cómodo. Vou para o longínquo Oriente - Tailândia e Camboja - onde o calor não dá tréguas, apesar da estação seca que começa agora. Levo uma mala grande mas meio vazia, sabendo de antemão que voltará bem cheia, dessas paragens onde as tentações consumistas são tão fortes como quase inconsequentes no orçamento. Um perigo, portanto. Junto-lhe, depois de uma última verificação, o imprescindível repelente de insectos (sou uma vítima habitual), o meu Ipod (para além de companhia no avião, tenho a secreta vontade de entrar em Angkor Wat a ouvir Beethoven), alguns medicamentos SOS e um livro que me faça esquecer as longas horas das viagens aéreas, já que não vou ter tempo para grandes leituras quando lá chegar. A escolha não é difícil e parece-me adequada: os Contos Orientais de Marguerite Yourcenar, pérolas clássicas que constituirão uma perfeita e suave antecâmara ao desafio que me aguarda do outro lado do mundo. Resolvo alguns assuntos de última hora e almoço com um querido amigo, embaixador em Bangkok por muitos anos e agora reformado, que me dá preciosas dicas e me enche de recomendações importantes. Tudo a postos, respiro fundo e estou pronta a começar a aventura. Primeira escala: Paris. A morrinha cinzenta do costume, a lembrar-me de que o charme também pode ser um suspiro e um arrepio de frio. Mas adiante. É tudo isso que deixo para trás, em troca de uma luz dourada e de um calor abrasador. Mas, sobretudo, em troca do desafio da eterna pergunta: o que será que me espera por lá? Pergunta que, aliás, engloba sempre o seu reverso: o que espero eu do que me espera? Se é verdade que todas as viagens são interiores, em busca de nós próprios (Pessoa dixit), desconfio de que esta me vai dar algumas respostas importantes. É com tudo isto fervilhando na cabeça que entro no enorme airbus da Air France, com a sensação de entrar numa espécie de máquina do tempo: começo a viagem em 2009, mas, quando chegar ao meu destino, o calendário dir-me-á que estou no ano de 2552.
(cont.)
De Luísa a 10 de Novembro de 2009
Querida Ana, que bom que esteja de volta (sã e salva)! Sobre esta aventura, já devorámos os aperitivos com a Rita. Esperamos agora a refeição completa. :-)
Sã, salva, e... já com saudades de lá. Mas também já as tinha de todos os amigos de cá.
Vamos lá a ver se o resto da refeição corresponde à qualidade dos aperitivos... :-)
De
CNS a 10 de Novembro de 2009
Querida Ana
Feliz por vê-la regressada. E fico aqui à sua porta esperando a continuação desta sua aventura oriental.
Obrigada, Cristina. Cá estarei para contar o resto. E muitos parabéns por mais um lançamento do seu Gineceu no dia 14. Será desta que consigo ir dar-lhe um beijo pessoalmente? Espero que sim.
De
fugidia a 10 de Novembro de 2009
Hum... cheira-me (não, não é a quiche... :-p) que vamos ter por aqui um belíssimo diário de viagem!
Já estou a gostar :-D
Ainda bem que gostas, Fugi, mesmo sem a quiche (não, não está esquecida, em breve darei notícias sobre isso também...)
:-)
De mike a 11 de Novembro de 2009
Porque será que tinha a sensação que mal chegasses terias saudades... de lá? ;D
Porque já me conheces um bocadinho, provavelmente. Vão ficando partes de mim em todos os sítios por onde passo e gosto. Depois tenho de voltar para matar saudades, nada a fazer...
E tu, ainda de passeio pelo red light district? Qual reunião de trabalho, qual quê! lol
De meunikaki a 11 de Novembro de 2009
Não me estranha que Pessoa disse-se que todas as viagens são interiores, em busca de nós próprios... ainda bem que se condiciona essa afirmação com um "Se é verdade...". Fico aliviado; as únicas viagens em que, julgo, estaremos em busca de nós próprios serão aquelas que repetimos, na esperança de encontrar o que lá, eventualmente, deixámos (um bocado de nós próprios, como diz a Ana).
Belo começo de diário, fica-se à espera de mais, naturalmente, que, de momento, ainda só se está a sair de Paris :-)
De meunikaki a 11 de Novembro de 2009
dissesse e não disse-se, natrualmente :-)
De meunikaki a 11 de Novembro de 2009
e naturalmente e não natrualmente. Isto hoje anda mal.... (ainda pensei escrever ainda mal...)
Meunikaki, é capaz de me dizer o que foi o seu pequeno-almoço? É que talvez tenha trocado a garrafa do leite pela do whisky... LOL
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