Manuel Fragoso de Almeida
Obtida a necessária autorização da menina Ana, aqui vamos nós iniciar uma volta por alguns sítios da gastronomia de Portugal, com um pré-aviso: desfazem, quase todos, as tímidas tentativas de dieta de quem tiver a paciência de me ler, e sobretudo comprovar demoradamente as recomendações que vos deixo. As férias de Verão já lá vão, por isso é somente uma questão de optarem por um furo do cinto mais favorável…
De quando em vez poderei parar num sítio recomendável para o efeito, e sugerir-vos também uma estadia diferente, relaxante, perto da praia ou no campo, para um fim-de-semana de repouso, ou adequado à leitura serena de um livro, e inspirador de novas escritas e novas estrofes das escritoras afamadas.
Estávamos perto de Manta Rota e Tavira, e se calhar vamos seguir viagem pela Via do Infante (para eu ter não me demorar nos limites de velocidade da EN 125, e a Ana me dizer que o texto ficou muito longo…). Também não vale a pena acelerar muito porque vamos sair inevitavelmente para Olhão, onde mora um casal, o Zé e a Ângela, e uma família a que me ligam laços duma grande amizade desde os tempos da universidade.
O mais simples é seguir as indicações do porto, depois de passar pela nova zona industrial e seguirem mesmo até ao cais de embarque para a Ilha da Armona.
Já chegaram?
Então arrumem o carro pela zona das “docas” (quem diz que só há docas em Lisboa?), e perguntem o melhor caminho para chegar ao restaurante do “Zé Manel”. Fica no fim duma rua estreitinha que vai dar à marginal das docas, e não vale a pena perguntar pela “Casa de Pasto – Algarve”, o verdadeiro nome, porque se calhar ninguém o conhece. Chegando em cima da hora também não se dispersem pela visita à nova marina ou pelos novos apartamentos que ficam mais para o fim da avenida. Essa é uma hipótese dum passeio digestivo.
Bom, agora já sentados na esplanadazinha do restaurante, têm obrigatoriamente de entrar nas boas graças do Zé Manel (as histórias sobre o seu mau humor têm graça, porque se passaram com outros clientes), e de seguida deixar-se conduzir por este viúvo, verdadeiro patrão omnipresente do restaurante, mas que dirige uma cozinha divinal.
Uma ajuda? Avanço, sem medo, para os filetes de lingueirão e sobretudo umas lulinhas em caçarola de barro, que são uma maravilha. Mas é bom tomar atenção que as especialidades são muitas (e podem variar consoante o dia), e sobretudo… ter sempre presente que quem manda é o Zé Manel, até porque a figura recomenda que assim seja.
Nós queríamos provar quatro pratos, repartindo entre os dois casais ao gosto de cada um, mas fomos logo avisados: “Não, comem lingueirão e as lulinhas que estão muito boas!” Comemos, sim! E efectivamente foi necessário o passeio nocturno pela nova marina, pela vista dos apartamentos, etc.
Até à próxima viagem, mas até lá… uma aguinha das pedras talvez não seja mal pensada, e sobretudo, deixem passar o efeito das imperiais bebidas ao jantar.