Rita Ferro
O meu neto levou-me ao Zoo!
(Mara: roedor oriundo das pampas, residente no zoo de Lisboa desde 2001)
Fui mãe aos 21 anos, pelo que me considero uma avó nova – sei que é patético, mas deixem-me acreditar. Talvez por isso, tive a coragem de levar o meu neto Pedro, de 5 anos, ao Jardim Zoológico de Lisboa. Tenho outro chamado Vasco, de dois anos – obeso, estroina e sedutor - mas tão intensamente feliz que rebenta comigo. Quando me ofereço para tomar conta desse com a intenção insofismável de lhe apertar os braços rechonchudos, com ganas antropófagas, ou afundar centenas de beijos ávidos naquelas bochechas suculentas, do meu sangue, à revelia dos seus protestos, chego a casa tão cansada como se tivesse esfregado, de joelhos, um piso inteiro do Hospital de Santa Maria. Quer tudo: roer-me o comando do carro, lamber o meu telemóvel de ecrã táctil, arrancar-me os colares, puxar-me os brincos até à mutilação medieval, enfiar os dedos gordos nas tomadas, depois de os chupar, abrir o caixote à cata de lixo orgânico, descolar com aplicação o sofisticado papel de parede da casa de jantar da minha filha. Como se não bastasse, está na fase de largar as fraldas, remetendo-me para essas humilhantes sessões de penico, com distracções catastróficas nos estofos dos sofás brancos ou, sadicamente, na roupa que acabei de vestir-lhe. Resultado: por uma questão de saúde mental, minha, ficou em casa.
O Pedro é outra coisa: além de assustadoramente responsável, tem um léxico e uma gramática surpreendentes, uma auto-suficiência invejável e um sentido de justiça que tomara muitos magistrados. Se eu digo «Vês só mais este Ruca e depois giras para a cama», é principesco a honrar a negociação. É uma delícia estar com ele, a sós, apesar de ser um anti-fumador primário e de me perseguir com o civismo: «A avó deitou o cigarro pela janela», «A avó está a comer pastilha elástica de boca aberta», «Não grite com o mano, avó. Ele não é surdo.», deixando-me invariavelmente a balbuciar justificações idiotas e a sentir-me um cafre.
Mas, voltando ao zoo, paguei cinquenta euros entre entradas, gelados, ice-tea e Mac-nuggets, mas vimos tudo: os camelos, os leões, os gorilas, as anacondas, os flamingos, os leões-marinhos, os rinocerontes, os hipopótamos, os crocodilos, as girafas e a tartaruga gigante - a qual, aviso já, é neurasténica –, e até descobri uma espécie que não conhecia, os Mara, umas lebres da Patagónia com cara de burro e corpo de canguru, medonhas, que correm a 45 km à hora e são do tamanho de cães médios. Por fim, já com os pés a explodirem dos sapatos e a coluna a facturar-me juros, andámos de teleférico que, para grande surpresa minha, é de graça! À saída, moribunda mas recompensada por ter adubado o imaginário do meu neto, ouvi-o confirmar, enternecido com o meu contentamento: «Então, avó? Gostou?»