Terça-feira, 26 de Maio de 2009

Pocket Classic (Oblomov)

Marie Tourvel

 

 

Ando falando muito em letargia, bilionário. Nada melhor para isso do que Ivan Goncharov com seu Oblomov. A letargia ali é representada da forma mais pura. O livro mostra que nem todos os que entram no estado letárgico são necessariamente tolos ou ruins: só são letárgicos por se acharem incapazes. Talvez sejam. Talvez não. Eu sei que você, bilionário, não está entendendo muito bem esse “papo cabeça”, mas os seus já amigos intelequituais vão entender bem o que eu digo.

Resumo:

 

Cara bacana e inútil fica o tempo todo dentro de seu quarto dormindo e vendo a vida passar. zzzzzzzzzzzzzz. Dormindo muito. E olha que nem Lexotan existia.

 

Pode parecer cansativo falar sobre perdedores, mas garanto a você, amigo, que o que mais encontrará nessas rodinhas intelequituais são exatamente os perdedores. Por isso eles têm essa inveja de você. Na sua grande maioria, o verdadeiro intelequitual é boa-praça, bom amigo. Mas ele acha incompatível a arte do saber com a arte de ganhar dinheiro. Por isso fica puto com você que, graças aos meus resumos – e isso não precisa ser comentado com os caras - ganha dinheiro e ainda tem tempo para ler essa classicaiada toda. Geralmente estes intelequituais escrevem muito bem, sabem como fazer, mas não desenvolvem. Na verdade são inseguros e preferem adotar o ar blasé. Quando ouvir o nome de Oblomov na rodinha, não tenha dúvida, diga que o autor, Goncharov, pretendia mostrar que a Rússia do século XIX não tinha como se desenvolver como o resto do mundo por causa de suas instituições falidas (se quiser arrasar de vez, acrescente que essa era exatamente a opinião de Marx e Engels. Pobres russos.). Mas não é só isso. Diga que Oblomov era ao mesmo tempo encantador e inútil. Sua inatividade faz com que ele perca um amor para seu amigo insosso, Stolz, este um cara prático, porém nada atraente. Aí é que entra a letargia do cidadão. Ele se fecha. Dorme. Seu criado, espertíssimo, organiza a vida do inerte e bacana Oblomov. Lembra-se do Dom Quixote e do Sancho Pança? Mais ou menos isso. Entendeu? Deve ter entendido, sim. Você já está ficando craque, amiguinho bilionário. E de sono em sono lá vai ele, rumo ao sono eterno.

 

Tudo o que eu sou está no Oblomov. Quero dormir. Goncharov sabia das coisas. Eu, bilionário, não sei nada de nada.  

 

 

Etiquetas:
publicado por Ana Vidal às 07:30
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17 comentários:
De ritz_on_the_rocks a 26 de Maio de 2009
Querida MT
Lembrei-me que o dinheiro não tem fronteiras e a cultura também não ...

http://www.youtube.com/watch?v=BTVHve2q_UA

deixo-lhe este breve momento de luz e cor a propósito dos perdedores ... ou não!

:-)

bj
Rita V.
De marie tourvel a 26 de Maio de 2009
Rita, querida, obrigada pelo vídeo. Não são perdedores, né? ;)

Mais beijos!

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