Quinta-feira, 14 de Maio de 2009

Nudez

 

Dispa-se primeiro, atentamente, toda a desatenção. Não é indiferente que se dispa a indiferença, logo depois. A seguir, ainda que seja a medo, dispa-se os medos que os anos costuraram até formar uma capa pesada, sufocante. Defenda-se o espírito de todas as defesas. Desmascare-se cada máscara, cada disfarce. Desproteja-se o corpo da ilusória protecção das cicatrizes.  Da guarda armada das cautelas, guarde-se distância. Liberte-se a alma dos desalmados pesos que a vestiam. Lance-se ao vento, desfeitos, velhos preitos e preceitos. Limpe-se os olhos de brumas e de escolhos, os ouvidos de ruídos, a boca de palavras ocas. Dispa-se dos gestos as gestas do passado. Dispa-se da última derme o verme da vaidade. Por fim, dispa-se depressa a pressa, que é preciso saber esperar. E só então, vestindo devagar uma nudez total, se pode receber uma lua inesperada.

 

(Imagem - René Magritte)

 

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publicado por Ana Vidal às 03:33
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32 comentários:
De Cristina Ribeiro a 14 de Maio de 2009
...e teremos a leveza como o melhor dos sustentáculos, Ana.
De Ana Vidal a 14 de Maio de 2009
É isso mesmo, Cristina: sem pesos e de peito aberto. :-)

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