Rita Ferro
Por quem os sinos dobram
O que me impressiona na assunção gay,
naquele lugar de nós onde se espraiam as dúvidas mais ingénuas,
é a dispensa do outro sexo declarada como definitiva.
Nos homossexuais-homens, claro, despeita-me e desafia-me, por coquetterie feminil, o repúdio das mulheres como ponto assente para o resto da vida.
Tal como aos heterossexuais deve ferir, perante as sáficas, a sua negação nauseada.
Confesso que tenho dificuldade em imaginar as pessoas,
em qualquer cenário,
escravas do sentido único por hipoteca pública.
«Eu sou gay» - quase como:
«Se me virem um dia com alguém do outro sexo
estarei sendo incoerente ou fraudulento.»
E a pergunta fica:
não inibirá esta aparente bravura
uma incursão livre e facultativa
a qualquer dos outros pontos cardeais?
Não representará uma restrição à sua liberdade?
Ao seu direito à variedade, ao ecletismo?
Sou cada vez mais
pela irrelevância da diferenciação!
Não que não seja preciso banalizar primeiro
para fazer vingar a liberdade de cada um,
futuramente.
Mas como meta a atingir.
ADENDA:
Rita:
Recebi este desenho da nossa amiga Rita Vasconcellos, por e-mail, como contributo para esta discussão. Como não sei por desenhos na caixa de comentários, fica aqui mesmo: