Marie Tourvel
Você pensará em Madame Bovary, bilionário. Pode pensar, sim, já que Eça de Queirós é da mesma escola de Flaubert. Contemporâneo de Flaubert, tinham a mesma linha. Eça foi um dos melhores escritores em língua portuguesa. Aí você me pergunta: “De novo uma mulher que trai o marido? Você está querendo insinuar alguma coisa com isso?” Claro que não, amigo. Quero só mostrar a você os grandes clássicos. Não fique caçando mensagens cifradas em minhas lições. Eu só estou fazendo resumos para você. Vamos a ele:
História da sirigaita Luísa, uma moça que não fazia droga nenhuma da vida e era casada com Jorge, um engenheiro sem glamour nenhum. Ele viaja a negócios e ela começa um casinho básico com seu primo Basílio, um cafa* de marca maior, que havia sido seu namorado. Mas no caminho de Luísa tinha uma governanta. Havia uma governanta no caminho de Luísa (by Drummond). Passou o pão que o diabo amassou com as chantagens, já que Luísa, a burra, deixou rastros da traição. No fim morre a governanta Juliana e a Luísa. O marido fica sabendo de tudo e perdoa a mulher. O amante desgraçado ainda se lamenta porque perdeu a diversão em Lisboa.
Um detalhe importante: Na história, Basílio reaparece para Luísa, rico. Adivinhe onde ele ganhou dinheiro? Isso mesmo, no Brasil-il-il, Bananão-ão-ão.
Agora falemos das conversas que surgirão sobre o livro. Os intelequituais perguntarão se o livro só trata do adultério em si. Você diz imediatamente que não. Que o adultério é só um aperitivo. Que o livro trata de apresentar a degradação das classes burguesas de Portugal. Diga que as personagens não surpreendem e nem evoluem, apenas modificam-se pelas circunstâncias. Aí vem em minha cabecinha: “Eu sou eu e minha circunstância” frase de Ortega y Gasset. Nunca ouviu falar do Ortega y Gasset? Nem de Ortega sin Gasset? Ah, um dia falo deles por aqui. Eles perguntarão a você, possivelmente, sobre o Conselheiro Acácio. Não enfeite muito para falar nele. Só o descreva com palavras certeiras: defensor do governo e da monarquia; gosta da tradição, família e propriedade; símbolo da mediocridade e que tem por amante sua criada. Um chato profissional mesmo. Sobre Juliana, a perversa, diga que era uma rancorosa solteirona e muito invejosa. Pega bem você falar que era o “caráter mais verdadeiro do livro”, palavras de Machado de Assis, deixe claro isso. Sim, o Machado de Assis, aquele que escreveu sobre a Capitu, outra adúltera, ou não. Os intelequituais ficarão admirados por você saber que um dia Machadão fez uma resenha deste livro. Acho que depois dessa você pode levantar seu narizinho e se sentir um deles. Até eles, os intelequituais, já enxergarão você como um deles. Mas procure não se empolgar. Mantenha a devida distância. Eles são loucos para dar um bote. Peça licença e saia da roda. Vá para outra que devem estar falando de Balzac ou Sthendal.
Na semana que vem a pedido da querida Patti, falarei sobre “O Vermelho E O Negro” de Sthendal. Não, bilionários brasileiros, não é um livro sobre o Flamengo**. Tirem seus cavalinhos da chuva.
*cafa = cafajeste
**Flamengo = time de futebol do Bananão.