Marie Tourvel
Meu amiguinho bilionário, este foi o primeiro livro que li inteirinho e sozinha in english. Sense And Sensibility de Jane Austen. Ganhei um exemplar pequenino, porém limpinho, do meu pai. Ele me escreveu uma bela dedicatória, como sempre fazia. Presenteei uma pessoa que era –e ainda é, muito especial pra mim com o exemplar. Naturalmente a “pessoa especial” jogou o livro no lixo ou deixou cair uma xícara com café por cima, já que ele fez o mesmo comigo. Mas isso não vem ao caso. Não contei essa história pra sentirem peninha de mim. Contei porque assim você entende com minha historieta que às vezes faço besteiras e sou só sensibilidade, a razão passa longe.
Ao resumo:
Duas irmãs ficam na merda depois da morte do pai. O meio-irmão as sacaneia. Não dá pra continuar morando onde moram. Vão pro campo. Lá, elas têm que bancar as phinas pra arrumar casamentos com bacanas. As duas se apaixonam. Uma é prática e durona (Elinor), a outra toda sensível, cheia de querer sonhar (Marianne). Passam uns perrengues, mas casam-se e são felizes no final –sei lá se para sempre, pelo menos é o que aparenta.
É um romance rasgado e para falar dele com os intelequituais, basta dizer que Jane Austen tem uma elegância em descrever sua época como ninguém. Embora seja um enredo de casamento, você pode enfeitar um pouco o pavão e dizer que o objeto real de estudo é o que move a razão de uma e a sensibilidade da outra. O centro do romance é a evolução dos personagens. Diga que é uma satisfação ler Austen expondo o título do livro. Eles podem perguntar a você qual a melhor tradução para o título do livro, Razão E Sentimento, ou Razão E Sensibilidade? Embora eu simpatize com a “Sensibilidade”, o mais correto é “Sentimento” mesmo. Diga que a criação da perspectiva é conseguida através da linguagem, que muito bem colocada dá a impressão de conseguir moldar caráter. Já ganhou todo mundo com isso. E tenho uma dica: visite o blogue Jane Austen Em Português da Raquel que aprenderá tudo e mais um pouco sobre Jane Austen. Raquel até sugeriu um título, corroborado pela Letícia do ótimo Flanela Paulistana, bem interessante: “A Certinha E A Sem-Noção”. Eu gostei. Entre nós, bilionário, podemos até arriscar alguns títulos: A Durona e a Tonta”, A Clint Eastwood e a Lewis Carroll”, A Casca-de-Ferida e a Goiaba”, e muitos outros. Invente o seu título. Se sentir que os intelequituais estão calibrados um pouco mais que o normal, pode até fazer uma piadinha, mas tenha a certeza que beberam mais de três doses. Sei que vai dizer que o romance não é pra macho, é de mulherzinha. Mas saiba que até as mulheres mais duronas como Elinor simplesmente amam quando os moçoilos dizem que leram Jane Austen e ainda por cima comentam o romance. Ponto pra você. Nesta rodinha pode ter uma intelequitual bonitona que você está querendo há muito tempo. Sim, as intelequituais também amam e transam. É sua grande oportunidade. Só tome cuidado com sua Sheyla Shirley. Ela pode desferir o tal livro em sua cabeça.
Para a semana que vem ando numa dúvida atroz: Eça de Queiroz ou Stendhal? Voltaire ou Balzac? Ainda não sei. Deixem-me sair um pouco de minha veia sensível e não pensar mais no meu exemplar raro da Jane Austen manchado de café.