Quinta-feira, 11 de Setembro de 2008

Observatório


 

 

A Nova Diáspora

 

Despedi-me dele hoje de manhã bem cedo. Tinha que estar no aeroporto às 7:00 para o check-in de um voo para a Suíça que só partiria daí a duas horas.

 

Ligou-me pelas 7:40, dizendo que não tinha havido problema com excessos de peso, preocupação que tinha, pois sempre eram seis meses e a mala estava bem atulhada de roupa quente, preventiva para o frio que, adivinhava, passaria a ter.

 

Foi mais um passo. A caminho de ser homem, mais homem, já nos seus vinte anos a completar daqui por oito dias, já cheio de barba na cara, mais alto do que eu (insiste ele) não mais do que dois dedos (digo eu), a Vida a sorrir-lhe num rumo promissor, tanto pessoal como académico, já no início do terceiro ano de licenciatura.

 

Ontem, na procura do sono que teimava em vir, recordei passados não tão distantes assim (para mim), a deitá-lo na cama de grades, o tipo em pé, sem querer dormir, eu a dar-lhe mimo e a tentar adormecê-lo, e o tipo, nada. Dez minutos depois… “o Pai vai só ali à casa de banho e já vem, tá bem?”. E ficava à coca, a espreitar pela porta a ver se o gajo caía. Contou-me, há pouco tempo, que se lembrava perfeitamente destas manobras e que ficava à espera que eu aparecesse outra vez. Até que adormecia.

 

A primeira comunhão, muito sério e consciente do passo que ia dar. Os anos escolares, que ia ultrapassando com notas brilhantes, de aluno aplicado e responsável que sempre foi. A entrada na universidade. A carta de condução.

 

Por muito prolífica que seja a prole, olhamos para cada passo de cada um, para cada etapa que cada um enceta, como se tudo fosse novo, como se não tivéssemos já experiência, tanto nossa como da vivida com os mais velhos, vivendo com eles a ansiedade da descoberta daquele futuro que se lhes está a abrir, ali, naquele momento.

 

Francamente, não estava preparado para esta nova experiência de ver um Filho partir, por um tempo relativamente longo, para fazer Sócrates (Erasmus assim apelidado nos países fora da União Europeia… ao que suponho, sem se tratar de qualquer homenagem ao homem), quase obrigação actual (podendo, claro) para uma mais completa formação do jovem adulto.

 

Com a qual concordo e, naturalmente, concordei. Mas quase só no plano individual, pela experiência humana, pela abertura de espírito, pelo desenvolvimento da capacidade de iniciativa e do sentido de responsabilidade, pelo conhecimento de outras realidades e, porque não, para saberem que a vida custa e não são só facilidades debaixo das saias e das calças dos paizinhos.

 

No aspecto académico, salvo situações particulares de desenvolvimento científico ou outros níveis de especialização em pós-graduações, acho que temos muito boas universidades e que estas modernices só delapidam o orçamento familiar.

 

Aliás, este é o primeiro passo para essa delapidação continuada que representam as “modificações à bolonhesa”, pois ficar pela licenciatura de hoje é capaz de representar menos que o bacharelato de ontem, sendo obrigatório, portanto, seguir para mestrado. E toma lá uns milhares, que o valor das propinas é para doer …

 

Mas vamos ficar com um País de Mestres… a somar aos aprendizes que por cá já andam…

 

Pedro Silveira Botelho

 


 

(O Porta do Vento saúda o PSV e o regresso do seu Observatório, depois de uma ausência que nos demonstrou como tem feito falta por cá. Bem-vindo de novo, Pedro.)

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publicado por Ana Vidal às 17:56
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8 comentários:
De Ana Vidal a 12 de Setembro de 2008
Boa sorte e boa experiência internacional para o S., Pedro. Espero que tudo lhe corra bem. Aguenta as saudades e respira fundo, que seis meses passam a correr. E a experiência vai ser óptima para ele, é sempre bom que eles abram as asas e saiam do ninho, por mais que nos custe.

Um beijo
De psb a 12 de Setembro de 2008
É isso, Ana. Passa num instantinho.
E com as novas tecnologias (Skype) até parece que não há distância.
Um beijinho

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