A minha Ericeira
A tua Ericeira , Leonor, teve o condão de lembrar-me a minha (não muito diferente): a casa encostada ao Parque de Sta Marta, onde assisti embasbacada ao primeiro passo do Homem na Lua; o Café do Xico, onde se cozinhavam os namoros de cada Verão; o ringue de patinagem do Parque, onde exibíamos equilíbrios e piruetas para impressionar os possíveis candidatos, ao som do Calhambeque de Roberto Carlos; o Cinema do meu primeiro filme, "Sete noivas para sete irmãos" (!); os bolinhos de coco da Pinta, comidos quentes e em quantidades tais que enjoei o coco até hoje; o Ouriço, onde dei o meu primeiro beijo, de dentes ferozmente cerrados; a travessia a nado da praia grande para a praia do sul, que o meu pai fazia e nos arrepiava (os banheiros deixavam-no fazer a proeza, só a ele, porque o sabiam um nadador prodigioso); o Jogo da Bola depois da praia, onde combinávamos programas tão inocentes como nós; os passeios com os amigos até às Furnas, antes de jantar, com um frio de quase Inverno e um cheirinho a maresia incomparável... e tantas, tantas outras coisas mais, todas elas lembranças de tempos felizes.
Obrigada por me teres trazido à memória essa Ericeira perdida, onde só voltei há 2 ou 3 anos por insondáveis razões. Apesar de tudo, a essência da "nossa" Ericeira ainda lá está. Betão à parte, ainda encontrei a sua magia quase intacta.
Nota 1: Resposta à pergunta de Leonor Barros (Geração Rasca, 21 de Junho) - "E a tua Ericeira, como é?"
Nota 2: A "minha praia" de sempre não é a Ericeira, mas o Baleal. Já falei nele aqui também. Acontece que, por circunstâncias que agora não interessa referir, passei na Ericeira alguns Verões fulcrais da minha adolescência, como se pode perceber pelas recordações que tenho dessa praia maravilhosa. E no meu coração cabem muitos lugares, como cabem muitas pessoas.
(Publicado pela primeira vez em 25/06/2007)