Língua
Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixa os portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala, Mangueira!
Flor do Lácio, Sambódromo
Lusamérica, latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?
(Caetano Veloso)
Nota: Sou frontalmente contra o acordo ortográfico que nos está a ser imposto. Se há assunto que mereça e faça sentido ser referendado, é este. Porque nos diz respeito a todos como nenhum outro e porque se trata do nosso património mais precioso. Escolhi propositadamente um poema brasileiro, e não português, porque não quero que o meu protesto se confunda com nacionalismos bacocos, que não defendo. E também porque, apesar da proposta (já aprovada) ter partido do Brasil, há muitos brasileiros - entre os quais se encontra uma quantidade significativa de intelectuais - que não concordam com ela. O que o acordo exige é uma insanidade: que se submeta a grafia à fonética e que se acabe de vez com a riqueza da nossa língua, cujas variantes nunca impediram um bom entendimento entre os povos que a falam. Quero que da minha língua continue a ver-se o mar, TODO o mar, na sua infinita diversidade.
Gostava de ter a vossa opinião.
(* Título roubado a Vergílio Ferreira)