José António Barreiros
O dia terminava. Sabia-se porque no interior de cada sala esconsa projectava-se já a penumbra, devorando a cada objecto o seu pormenor. Era a hora em que as almas anoiteciam. Apenas os sons se tornavam mais nítidos, mais próximos, mesmo quando incómodos. No vazio de uma esquálida varanda, envolvendo-se na sua incerta sombra, fazendo do seu corpo companhia, estava um cão. Não era fácil saber se ainda existia para alguém, cuja alma doesse por ele estar ali. Domingo voltariam todos, o mundo dos humanos. Água, comida para uns dias e a ausência de certezas, eis o que tinha para enfrentar aquilo que a vida lhe trouxesse. Sexta-feira todas as contingências lhe pareciam, porém, possíveis. Ninguém o avisara do que poderia suceder. O silêncio era a sua forma de aguardar o regresso da esperança.
De mike a 30 de Maio de 2009
Ia escrever enigmático e misterioso, JAB. Mas depois de ter lido os comentários, nada como a sensibilidade e intuição feminina para nos despertar de uma letargia e preguiça mental masculina, resolvi que, afinal, acho este texto, para além de magnífico, enigmático e misterioso.
De José António Barreiros a 30 de Maio de 2009
Mike , bom dia. Não há uma letargia nem uma preguiça que sejam atributos da masculinidade. Talvez remorsos sim, de maus momentos e a vontade de exorcizarmos o mal flagelando-nos por culpabilização. Menos por cavalheirismo, mais por já nem sabermos de que nos absolver.
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