Domingo, 31 de Maio de 2009

Adivinhe quem vem jantar?

Luísa

 

Adivinhe quem vem jantar?

 

Tencionamos arrancar com uma sopa que lhe mate as saudades dos bons velhos tempos no Novo Mundo, uma «corn chowder» de milho verde e bacon, que colocaremos na mesa com o primeiro tema de discussão: o que é o bom jornalismo? A nossa dúvida é saber se há um conceito único - a prestação serena e factual comummente associada a uma BBC - ou se, pelo contrário, há conceitos diversos, ajustáveis às circunstâncias, que não desprezam a modalidade opinativa e acusatória, tida por impertinente, quando o clima político é ou tem tiques autoritários, desrespeita as independências institucionais e menospreza as oposições. Quase adivinhamos a resposta do nosso convidado. Trata-se de um profissional batido, com um currículo que inclui vivências internacionais e contactos - alguns complexos e traumatizantes - com vários tipos de censura, e que tem dado voz aos seus pontos de vista, num tom delicado, mas desassombrado, e não raro contundente no registo escrito. O seu estilo pessoal não é anglo-saxónico, mesmo se a sua formação deve muito a uns anos de trabalho nos States. 

 

Com o prato principal, um típico «yankee meat loaf», acompanhado de «fried green tomatoes» e regado com um bom «rosé» californiano, entramos na conspiração. E pensamos propor a debate as nossas suspeitas de que, neste momento de cizânia nacional – casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão – o poder procura confundir-nos ainda mais, lançando as culpas da desgraça (entre as quais disfarça as suas próprias incompetências e pecadilhos privados) no saco sem fundo da «crise» e nos já carregados alforges da Justiça e da Comunicação Social. Quase adivinhamos a posição do nosso convidado. Trata-se de um homem sensato e sensível, os óculos de lentes grossas asseguram-lhe uma boa visão das coisas, e se certas provações do passado o «vulnerabilizam» a pressões, tem feito um esforço notável para reagir e manter a dignidade do distanciamento. Enxofrou, com isso, a governação, que passou a exigir-lhe um tratamento cerimonioso ridículo e limites ao interrogatório, antes de se furtar, definitivamente, ao seu espaço noticioso. Acreditamos que, actualmente, partilha as nossas suspeitas.

 

Contamos, portanto, ter, na altura da sobremesa - um «brownie» em calda de frutos vermelhos - razoavelmente aprofundados os mistérios que assolam o nosso presente político, incluindo os casos policiais das corrupções e das chantagens. E não deixaremos, naturalmente, de retribuir a confiança do nosso convidado com a surpresa de um desses momentos poéticos, emotivos, sublimes, tão da sua predilecção. Entre nós, programamos a declamação, pela nossa anfitriã, destas dramáticas rimas de autor anónimo:

 

Jornalistas portugueses:

Sabeis bem como é verdade

Qu’ este país adiado

Preza pouco a liberdade.

 

Pois, ó bravos jornalistas,

Defendei-nos do grilhão,

E rasgai, em altos brados,

As teias do vil «centrão».

 

……

 

Espero que as lágrimas não me salguem o café.

 

publicado por Ana Vidal às 07:30
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20 comentários:
De Cristina Ribeiro a 31 de Maio de 2009
Luísa, já que o vai ter à mesa, diga-lhe, por favor, do quanto tem sido precioso o dar, não só nas entrevistas televisivas, como nas crónicas jornalísticas, voz àquela maioria (?- quero pensar que é uma maioria... ) silenciosa que o aplaude quando o ouve e lê, nos momentos em que ele, desassombradamente, " põe nome aos bois ".
De Luísa a 1 de Junho de 2009
Cristina, pois contava consigo para lhe transmitir pessoalmente esse sentimento (sendo que eu própria abandonaria, por momentos, a cozinha para fazer coro). Concordo inteiramente, Cristina. Nas crónicas, sobretudo, tem estado muito bem, abordando os assuntos mais «delicados» - politicamente falando - com notável acutilância. A liberdade pública em Portugal já quase só tem expressão nesses pontuais exemplos de desassombro jornalístico. :-)

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