Marie Tourvel
Primeiro: hoje, George Bernard Shaw - o linque está in english porque em português estava pobre demais, e seguiria a Marie que vos escreve e mudaria o título para Socialismo Para Bilionários. Segundo: leia isto, antes de começar a viajar pelo mundo de Shaw. Leu? Entende o motivo pelo qual considero todo o resto do jornalismo do Bananão “secos e molhados”? O nome dele é Diogo Mainardi, bilionário amiguinho, não esqueça. Dito isso, falemos desta pérola de Shaw. Não tem muito o que resumir, o grande babado é a obra deliciosa do irlandês deliciosamente sarcástico:
É uma pilha de sacanagens disfarçada de manual de instruções para milionários viverem sem culpa no meio de tanta idéia pobre.
Falar sobre esse livro com os inteléquitos será divertidíssimo, já que eles perceberão, pelo que vou lhe ensinar, que você não se sente culpado por ser podre de rico. Eu sei que você sente culpa, sim, mas não precisa escancarar para eles. Eles vão lhe considerar piegas. E tudo o que não pode nessas rodinhas é cair na pieguice. Eles o destruiriam em três tempos. De bate pronto já diga que o objetivo principal da obra era mostrar a complexidade das relações humanas e discutir de forma veemente os preconceitos políticos, religiosos e morais de sua época - o final do século XIX. Ganhará pontos no meio. Diga que o polemista Shaw possuía uma ironia aguçada e um apreço por paradoxos, e que a obra é mais atual do que se pensa. Todos sabem disso, mas ouvir de sua boca ainda causará espasmos nos intelequituais. O caso é que Shaw usa argumentos socialistas para defender você, bilionário. Salve Shaw! Por que se sentir culpado por saber ganhar dinheiro? Se o intelequitual não sabe, problema dele. E não será você quem vai patrocinar um livro mal escrito do cara, não é? Seu dinheiro pode ser bem melhor gasto com seus iates. Fora que o livro tem frases ótimas que você pode lançar e fará sucesso –vê se decora, tá? “Quando um tolo pratica um ato de que se envergonha, declara sempre que fez o seu dever.” Ou: “Uma vida inteira de felicidade? Ninguém agüentaria: seria o inferno na terra." Ou: “O pior crime para com os nossos semelhantes não é odiá-los, mas demonstrar-lhes indiferença: é a essência da desumanidade”. Ou: “(Jogo de xadrez) É um expediente tolo para fazer com que pessoas preguiçosas acreditem que estão fazendo algo muito inteligente, quando estão apenas perdendo tempo”. Ou: “Sou abstêmio apenas de cerveja, não de champanha”. Gostou, né, bilionário? Shaw era socialista. Sei que não devemos respeitar socialistas, mas Shaw consegue essa proeza. Pelo seu texto, por sua ironia, por seu sarcasmo e, por que não?, por seu cinismo. Pode falar tudo isso para os intelequituais, que eles ficarão todos apaixonados por você. Se disser que não se sente nem um pouco culpado pela pobreza que assola o mundo, então... vão odiá-lo mais ainda. Sim, o ódio dos intelequituais é pura inveja. E é muito bom ser invejado por eles. É gostoso ver gente como eles se sentindo minhocas. Apaixonados e ao mesmo tempo odiando você: eu não disse que Shaw era paradoxal? Só procure não citar Diogo Mainardi na rodinha. A paixão acaba e descamba para a mais pura ignorância. Tenha Diogo como seu ídolo velado mesmo que não tenha a menor idéia do que ele queira dizer em suas colunas, está bem? Se puder, bilionário, arrisque-se e leia o livro de Shaw. Posso emprestar o meu, que é uma edição antiga, mas cheia de dignidade.
(Tive a colaboração de um querido para este pocket que não quer se identificar. Ele é inteligente, escreve maravilhosamente bem e leu todos esses crássicos que pululam por aí).