Luísa
Este é o convite número 13 da Porta do Vento. Número que contém em si um mundo de incertezas… ou ameaças? Pois seja para o melhor ou para o pior, escolhemos hoje um convidado que divide, como nenhum outro, opiniões. Mas na Porta, mais do que interpelarmos os nossos convivas para que identifiquem o feliz ou infeliz contemplado, queremos partilhar dúvidas, desalentos, desconfianças, pequenos amores e pequenos ódios. E clarificar ideias, por que não? Quanto a mim, porque estou muitas horas a reflectir, entre tachos e panelas, sobre a personalidade dos políticos, os seus comportamentos passados e presentes, as suas caras e os seus «corações», hão-de desculpar que, em me apanhando entre gente amiga, solte a língua e especule desenfreadamente.
Especulo, portanto. O nosso décimo terceiro convidado é um rapaz do meu tempo. Recordo-me dele da faculdade e de algumas viagens no 38, em que trocávamos palavras semi-pendurados nos varões que – sei-o agora – viriam a sustentar as aulas de dança feminina aqui reveladas num «post» recente. Achei-o, desde logo, um rapaz bem-falante, correcto e delicado, mas um tanto superficial, atributo que costuma denunciar uma vocação política. Bonito, como há quem o considere, não achei. Nem acho. Mas a beleza é um conceito eminentemente subjectivo… e também eu cedo perdi, com as minhas lentes de contacto, a benevolente inocência da miopia. Os anos foram entretanto passando e a carreira política foi-se fazendo com altos e baixos e previsíveis inconstâncias. Era a tal superficialidade em acção. No entanto, foi esta mesma superficialidade que, na minha perspectiva de analista de copa, lhe garantiu e tem mantido um lugar marginal relativamente aos interesses oligárquicos que controlam o país (e aos media que os servem). Porque esses «interesses» tendem, compreensivelmente, a preferir os «pesos pesados» do realismo tecnocrático, do comprometimento, da perseverança e do perfil trabalhador, mesmo que cinzentões e baços (e frequentemente improdutivos), aos «pesos pluma» da intuição, da ligeireza, do saudosismo ideológico e das generalidades, mesmo que coloridos e brilhantes (e até, por vezes, com obra). O escrúpulo ético – porque falamos de políticos e de oligarquias económicas – não entra nesta equação.
É, pois, para entender o que fez daquele jovem da minha faculdade, galante e namoradeiro, o «saco de boxe» da política portuguesa do último lustro – e conhecer, já agora, a sua posição sobre os escândalos dos contentores de Alcântara e do Museu dos Coches e o projecto, ventilado na Porta, de uns bailes na Estação do Rossio e no Cais das Colunas - que organizamos este jantar. Confesso que estou com sérias dificuldades de imaginação quanto à ementa. O esforço de análise na copa deixou-me arrasada. Por outro lado, não sei bem se, no contexto, devo investir em pão-de-ló, se em papo-seco; se num rosbife com salada de pepino e rúcula, se num bitoque com ovo a cavalo; se num mundano Esporão Trincadeira, se num triste Alísios, 2006. Uma decisão, contudo, está tomada, que a nossa anfitriã me perdoará. Vou encomendar, na pastelaria da esquina, um grande bolo verde, salpicado de pequenos esféricos e enfeitado com esta frase de grande alcance desportivo – que também faço, em ano eleitoral, a minha declaração de intenções: «Só eu sei por que não fico em casa!»