Domingo, 3 de Maio de 2009

Adivinhe quem vem jantar?

Luísa

 

Este é o convite número 13 da Porta do Vento. Número que contém em si um mundo de incertezas… ou ameaças? Pois seja para o melhor ou para o pior, escolhemos hoje um convidado que divide, como nenhum outro, opiniões. Mas na Porta, mais do que interpelarmos os nossos convivas para que identifiquem o feliz ou infeliz contemplado, queremos partilhar dúvidas, desalentos, desconfianças, pequenos amores e pequenos ódios. E clarificar ideias, por que não? Quanto a mim, porque estou muitas horas a reflectir, entre tachos e panelas, sobre a personalidade dos políticos, os seus comportamentos passados e presentes, as suas caras e os seus «corações», hão-de desculpar que, em me apanhando entre gente amiga, solte a língua e especule desenfreadamente.

 

Especulo, portanto. O nosso décimo terceiro convidado é um rapaz do meu tempo. Recordo-me dele da faculdade e de algumas viagens no 38, em que trocávamos palavras semi-pendurados nos varões que – sei-o agora – viriam a sustentar as aulas de dança feminina aqui reveladas num «post» recente. Achei-o, desde logo, um rapaz bem-falante, correcto e delicado, mas um tanto superficial, atributo que costuma denunciar uma vocação política. Bonito, como há quem o considere, não achei. Nem acho. Mas a beleza é um conceito eminentemente subjectivo… e também eu cedo perdi, com as minhas lentes de contacto, a benevolente inocência da miopia. Os anos foram entretanto passando e a carreira política foi-se fazendo com altos e baixos e previsíveis inconstâncias. Era a tal superficialidade em acção. No entanto, foi esta mesma superficialidade que, na minha perspectiva de analista de copa, lhe garantiu e tem mantido um lugar marginal relativamente aos interesses oligárquicos que controlam o país (e aos media que os servem). Porque esses «interesses» tendem, compreensivelmente, a preferir os «pesos pesados» do realismo tecnocrático, do comprometimento, da perseverança e do perfil trabalhador, mesmo que cinzentões e baços (e frequentemente improdutivos), aos «pesos pluma» da intuição, da ligeireza, do saudosismo ideológico e das generalidades, mesmo que coloridos e brilhantes (e até, por vezes, com obra). O escrúpulo ético – porque falamos de políticos e de oligarquias económicas – não entra nesta equação.

 

É, pois, para entender o que fez daquele jovem da minha faculdade, galante e namoradeiro, o «saco de boxe» da política portuguesa do último lustro – e conhecer, já agora, a sua posição sobre os escândalos dos contentores de Alcântara e do Museu dos Coches e o projecto, ventilado na Porta, de uns bailes na Estação do Rossio e no Cais das Colunas - que organizamos este jantar. Confesso que estou com sérias dificuldades de imaginação quanto à ementa. O esforço de análise na copa deixou-me arrasada. Por outro lado, não sei bem se, no contexto, devo investir em pão-de-ló, se em papo-seco; se num rosbife com salada de pepino e rúcula, se num bitoque com ovo a cavalo; se num mundano Esporão Trincadeira, se num triste Alísios, 2006. Uma decisão, contudo, está tomada, que a nossa anfitriã me perdoará. Vou encomendar, na pastelaria da esquina, um grande bolo verde, salpicado de pequenos esféricos e enfeitado com esta frase de grande alcance desportivo – que também faço, em ano eleitoral, a minha declaração de intenções: «Só eu sei por que não fico em casa!»

publicado por Ana Vidal às 09:30
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24 comentários:
De mike a 3 de Maio de 2009
Saco de boxe da política nos últimos 5 anos, um grande bolo verde e do Sporting... arrisco o Pedro Santana Lopes. Se acertei, deixo uma sugestão à Luísa quanto à ementa, para não ficar indecisa. Papo-seco, bitoque e Esporão Trincadeira. É que se ele não gostar, gosto eu. ;D
De Luísa a 3 de Maio de 2009
Mike, acertou e a ementa está feita (com a entrada de ostras da Ana e uns pozinhos de caril no bitoque). E o Esporão Trincadeira, que foi por si sugerido num outro «post», lá estará também. Como vê, não me esqueço das boas ideias dos nossos comentadores e amigos. :-)
De Grande Jóia a 3 de Maio de 2009
Se for bitoque não quero de porco :)
De Luísa a 4 de Maio de 2009
Querida GJ, quase me saía pela boca fora um «coitado do porco, que tão enjeitado anda». Esquecendo-me de que seria, provavelmente, a sua – dele, porco - sorte grande. Por mim, estou quase a suprimir o infeliz animal da minha dieta, mas por pura solidariedade. Mais um passo a caminho do vegetarianismo. ;-)
De Grande Jóia a 3 de Maio de 2009
Bitoque?
" Se fosse para comer bitoque ia ao Aires"...

Não pode ser uma Francesinha e um Fino?...)
De mike a 3 de Maio de 2009
Pronto, começam os pedidos à la carte... (muitos risos)
De Ana Vidal a 5 de Maio de 2009
Uma francesinha? Ora, GJ, o nosso convidado chamava-lhe um figo!

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