Terça-feira, 21 de Abril de 2009

Pocket Classic (As viagens de Gulliver)

Marie Tourvel

 

 

Repita comigo, bilionário: Swift era um cara batuta. Com suas digressões em “Gulliver” nos mostrou tudo sobre a natureza humana. De forma bem humorada e mordaz. Os intelequituais geralmente citam Swift e será pegadinha em cima de pegadinha para você dizer que é uma obra infantil. Não caia nessa, está bem? Vou lhe explicar logo adiante, após meu resuminho:

 

Lemuel Gulliver é um cirurgião naval que após um naufrágio vai parar em lugares muito loucos, mas muito reais. Curioso, depara-se com pequeninos, vendo-se um gigante em Liliput. Vê-se pequenino na terra de gigantes Brobdignag. Em Laputa vê  os habitantes ocuparem-se de complôs e conspirações enquanto o país se esfarela e os sábios obcecados por matemática, astronomia e música. E finalmente encontra os Houyhnhms e os Yahoos. Os primeiros são cavalos racionais que governam o próprio país e os segundos os comandados seres humanos bestiais.

 

Ok, bilionário, eu sei que parece uma inocente historinha infantil e que você vai pensar em dar para o seu filho menor ler. Dê. Ele vai gostar. E se seu rebento tiver um neurônio a mais perceberá outras coisas inseridas na obra. Vamos aos intelequituais que é deles que você quer tirar uma onda. Diga logo de cara que Gulliver é um delicioso romance que critica e, acima de tudo, satiriza não apenas a sociedade dos homens, mas a natureza humana. Vale dizer que é mais atual do que nunca. Diga que Gulliver tinha uma confiança inabalável na superioridade dos ingleses e que isto se quebrou quando se deparou com várias personagens. Todos, os anões, os gigantes, os boçais, os racionais, todos, emitem opiniões e encaram Gulliver de diferentes perspectivas. E não esqueça de dizer que isso faz com que o próprio leitor se questione. O mais interessante, bilionário, é você mostrar que sabe exatamente o que vem a ser toda essa crítica e toda essa sátira. Eu sei que você não sabe, mas demonstre que sabe, só demonstre. Gulliver preferia a companhia dos seus cavalos aos seus semelhantes. Deixe claro que o principal motivo da sátira não é ele, Gulliver, mas sim todos nós. Sim. Todos nós. Não gostou? Não entendeu? Se sente ultrajado? Não pense que porque já lhe mostrei uma série de clássicos por aqui que você pode se dar ao direito de emitir alguma opinião. Aqui é meio que ditadura, vá lá, uma ditabranda, até porque não peço um tostão de sua fortuna. Portanto, cale-se e faça o que eu estou mandando, está bem?

 

Achou que estou meio truculenta, hoje? Justo hoje em que falei de um dos meus escritores favoritos? É, ando meio nervosa. Como disse Swift certa vez: "Deixarmo-nos dominar pela cólera, equivale a sofrermos como justos o castigo reservado ao pecador."

 

Vou reler Rebelais. E tentar me divertir um pouquinho. Um dia falo sobre ele... 

 

Etiquetas:
publicado por Ana Vidal às 09:30
link
37 comentários:
De mike a 21 de Abril de 2009
É não ligar, Rita... é venenosa, sim! lol
De Ana Vidal a 21 de Abril de 2009
Não me provoques, mafarrico.
De mike a 21 de Abril de 2009
Sonsa! lol
De marie tourvel a 21 de Abril de 2009
Será que terei que colocar ordem nessa muvuca novamente? :)))))))))

(Adoro isso!)

Beijos a todos!
De Ana Vidal a 22 de Abril de 2009
Sonso és tu! lol

Marie, isto não tem remédio... o que é muvuca???

Beijos!
De marie tourvel a 22 de Abril de 2009
hahahahahahah!
Muvuca é bagunça, confusão...

De mike a 22 de Abril de 2009
Muvuca é o que tu sempre arranjas, Ana... estás sempre a aprontar! lol
De marie tourvel a 22 de Abril de 2009
Tá virando é um belo vuco-vuco, isso sim.

E lá vai o dicionário de expressões puramente bananeiras:
vuco-vuco: confusão maior ainda que muvuca.

:)

De Ana Vidal a 22 de Abril de 2009
Marie, bota muvuca-vuco-vuco nisso... o mocinho é perito na matéria! lol
De Ana Vidal a 22 de Abril de 2009
Moiiiiiii? Ó p'ra ele, tão santinho!

Comentar post

brisas, nortadas e furacões, por


Ana Vidal
Pedro Silveira Botelho
Manuel Fragoso de Almeida
Marie Tourvel
Rita Ferro
João Paulo Cardoso
Luísa
João de Bragança

palavras ao vento


portadovento@sapo.pt

aragens


“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez."

(Jean Cocteau)

portas da casa


Violinos no Telhado
Pastéis de Nada
As Letras da Sopa
O Eldorado
Nocturno
Delito de Opinião
Adeus, até ao meu regresso

Ventos recentes

Até sempre

Expresso do Oriente (3)

Expresso do Oriente (2)

Expresso do Oriente (1)

Vou ali...

Adivinhe quem foi jantar?

Intervalo

Semibreves

Pocket Classic (A Educaçã...

Coentros e rabanetes

Adivinhe quem vem jantar?

Moleskine

Lapsus Linguae

Semibreves

Sou sincera

favoritos

Fado literário

O triunfo dos porcos

E tudo o vento levou

Perfil


ver perfil

. 16 seguidores

Subscrever feeds