Luísa
O «Porta do Vento» reafirma, com os dois convidados que hoje recebe, a sua vocação cosmopolita. Ele é um portento de exuberância, um pequeno garanhão, com uma forma de estar na política que nos traz à memória o saudoso primeiro líder da nossa social-democracia: nervoso, dinâmico, pragmático, impaciente e passional, move-se por impulsos patrióticos num mundo em que a «real politik» não costuma coibir-se de vender os interesses nacionais aos desígnios dos capitais transfronteiriços. E se as suas dimensões concretas não fazem «jus» à estatura pública que adquiriu, a indústria do calçado aí está, toda afoita, subsidiando discretamente os centímetros em falta. Ela é uma referência estética - «bella, bellissima»! - e a sua forma de estar na vida muito aberta a ligeiras heterodoxias e artes - sendo certo que, nas incursões «baladeiras» que se lhe conhecem, a arte é ela. E se as suas dimensões concretas excedem os requisitos das funções oficiais que desempenha, a indústria do calçado aí está, de novo, compensando no «anti-salto» das «sabrinas», os subsídios concedidos ao parceiro. Ambos fazem um casal curioso, suficientemente desigual na forma, nas vocações, nas origens, no percurso, para manter em alerta as línguas que animam os mentideiros sociais, e suficientemente vistoso para recolocar a sua cidade das luzes no centro do planeta Terra.
Pela nossa parte, vamos procurar que, transposta a passadeira encarnada e a «Porta» dos nossos singelos domínios, o ambiente se liberte das formalidades protocolares e haja descontracção. Para tal, teremos a postos um Porto Vintage Quinta do Vesúvio e um tinto alentejano Scala Coeli de 2006, cuja excepcional qualidade talvez não previna as costumeiras «boutades» do convidado, mas iniba as suas tentações «proteccionistas». Já quanto à ementa, seguiremos escrupulosamente as orientações do seu conterrâneo, o minúsculo mas mais afamado «Chef de cuisine» da actualidade, que nos propôs, para entrada, umas «huîtres chaudes gratinées aux endives», irresistíveis; para prato principal, a sua «ratatouille provinçale», que se sabe capaz de aquietar qualquer resquício de desconfiança ou tensão; e, para sobremesa, uma «charlotte aux fruits brunis»… - ou serão «rouges»? – que, além de aquietar, adoça.
Fluirão os «licores» e fluirá a conversa, assim esperamos. Como esperamos também, senão desvendar os planos secretíssimos de «recuperação» da crise, pelo menos articular planos de «compensação» da crise… E nesse sentido, vamos animar a roda do café e dos «petits fours» com uns acordes de guitarra e a voz da nossa anfitriã neste sugestivo «pontapé de saída»:
Vous vous sentez bien servis?
Vous voulez remercier?
Mais de rien, mes bons amis!
Quoique l’on serait ravi
D’un p’tit séjour à l’Elysée…