Pedro Silveira Botelho
Amen!
Desde já declaro que sou católico de prática irregular, isto é, só vou à missa quando sinto um qualquer apelo que me leva a ir ouvir a Palavra, saindo normalmente tranquilo depois daquela pausa de reflexão.
Mas as (poucas) missas a que me proponho assistir são escolhidas, não vou a qualquer uma. Detesto beatices e ladainhas. Detesto a missa de púlpito. Detesto a prelecção que nos faz sentir pecadores sem remissão, que nos aponta o dedo de cenho arreganhado.
Gosto de uma missa descontraída, vivida, sentida, em que a Palavra nos é transmitida com naturalidade e proximidade e que exalta o que de bom há em nós, fazendo-nos perseverar nesse caminho. Gosto da Missa do Padre Alberto, na Paróquia do Paço do Lumiar, onde, não raro, nos faz sorrir, mesmo rir, com a humanidade e fraternidade com que nos fala.
Quanto mais gosto dos Padres Albertos que tenho conhecido, poucos, menos gosto do actual Papa Bento XVI, cuja frieza me decepciona e as posições retrógradas me chocam e me afastam. Já no seu tempo de anterior alto dignitário do Vaticano, achei despropositada e desactualizada a sua condenação, por bula, das manifestações de alegria na missa (como o bater palmas e o uso de música ligeira, por exemplo) e o regresso das femininas cabeças cobertas por véu ou lenço.
Agora, em Angola, a sua continuada condenação do uso do preservativo, afirmando ao mundo que pode mesmo ser causa de agravamento do problema da sida, para uma plateia onde pontuam 70% dos infectados do momento, deixa-me de boca aberta.
A excomunhão, pelo bispado da diocese brasileira, da mãe e dos médicos que assumiram e perpetraram o aborto a uma mãe-menina de 9 ou 10 anos, alvo de violação e que, naturalmente, ainda não tinha o corpo preparado para ser mãe, deixa-me atónito. Porventura terá escapado da excomunhão ela própria, pois, o mais certo, é nem sequer ter feito ainda a primeira comunhão. Será mais que provável que nunca queira vir a fazê-la, como é provável que estas atitudes e tomadas de posição afastem cada vez mais fiéis da Igreja Católica, como tem vindo a acontecer e não é para admirar, pois sentem-se desiludidos e não há Fé que ultrapasse a hipocrisia.
De tantos homens da batina de hoje, homens comuns como nós, mas tão longe de nós.