Domingo, 15 de Março de 2009

Adivinhe quem vem jantar?

Luísa

 

É, mais ano, menos ano, um rapaz para a nossa idade. E jeitoso, por sinal! Tem uma boa figura, uma expressão «blasée», de traços másculos e duros, sob a guedelha aloirada, uma voz grave e profunda e uma aura de «enfant terrible», que, para além de pequenas teimosias e insignificantes rudezas, é inegavelmente sedutora. As suas indisciplinas manifestam-se, de resto, em campos de razoável consenso, em prol das causas do equilíbrio da natureza, da preservação do património e da liberdade pessoal, que correm graves riscos num tempo em que o poder parece apostado em padronizar os nossos costumes e em subjugar à voracidade dos «parvenus» das finanças e dos negócios os interesses simples e honestos das pessoas comuns. Pela nossa parte, aderimos, com gosto, à cor das bandeiras que empunha. E aderimos, porque o temos por descomprometido com a política, com toda a independência que lhe asseguram a enxada de um curso em leis, uma larga experiência jornalística e o confirmado sucesso literário com um romance, sobre que, confesso, a recente adaptação televisiva, pontuada de diversões de um caricato ridículo e de uma graça sequíssima, me está toldando a memória e o juízo.

 

O nosso convite pretende espicaçar a sua rebeldia. E já que ao inconformismo tripeiro veio juntar-se o instinto primordial do caçador, desperto na descoberta das savanas de além Tejo, sugerimos um jantar de inspiração venatória, carregado de fragrâncias campestres. Iniciaremos, portanto, com o aconchego de uma canja de pombo, aromatizada com hortelã. Propomos, em seguida, uma galinhola assada com farofa de trigo e frutos secos, perfumada com cebolinho em hastes. E, a acompanhá-la, um tinto Scala Coeli 2006, adequadamente encorpado, com notável persistência e muita garra na boca. Para rematar, compensando o tradicional e apaladado Serpa, a doce acidez de um creme «brullé» de limão.

 

Com um café expresso intenso e um digestivo forte (um malte Talisker ou Lagavulin), esperamos tê-lo no ponto de arrancar daqui para a noite… talvez ao assalto do sinistro «castelo de contentores» de Alcântara, onde se acantona uma tropa de infiéis, pronta a abocanhar – assim lho permitam as nossas indiferenças, distracções ou braços caídos – toda a frente ribeirinha do Cais do Sodré até Belém.

 

 

publicado por Ana Vidal às 09:30
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36 comentários:
De fugidia a 15 de Março de 2009
Hum... Luísa, pela primeira vez em dúvida. Porque guedelha loira já deve ter sido mais mas, sobretudo, porque desconhecia que tinha um curso em leis (direito). Pensava que era de economia. Se o convidado for o Domingos Amaral, claro :-D

(adoro vir aqui logo de manhã e desta vez estou em pulgas para saber o veredicto :-p)
Beijinhos :-)
De fugidia a 15 de Março de 2009
:-) :-) :-)
Pensei no Miguel Sousa Tavares mas descartei-o por causa de não ser "rapaz para a nossa idade": leio e vejo-a jovem quarentona, Luísa :-p
E sim, é de leis e tem guedelha loira mas... não tem nada, mas nada, nadita de nada de sedutor, para mim.
E... hã... não gosto dele <:O) Beijinho e boa semana :-)
De Luísa a 15 de Março de 2009
Querida Fugidia, o gentil «quarentona» só falha nas primeiras quatro letras. É por pouco! Quanto à sedução do MST , reconheço que não é um valor universal. Mas o tom rebelde e o timbre grave da voz dizem alguma coisa a alguns… como a mim... ;-D
Um excelente semana. :-)

De Ana Vidal a 15 de Março de 2009
e a mim, Luísa, e a mim. Deve ser um problema das *****entonas! ;-)

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