A poeta e letrista brasileira - e minha querida amiga - Alice Ruiz, rendeu-se finalmente ao mundo dos blogues. É este o novíssimo endereço de Alice, para "visitas, sugestões, comentários, palpites e críticas", como ela própria anuncia. Não se admirem da lentidão das entradas e comentários, Alice ainda está a "engatinhar" neste universo. Mas, se bem a conheço, bem depressa passará de caracol a gazela.
Bem-vinda à blogosfera, amiga.
Deixo aqui dois aperitivos da sua arte poética, na forma de um poema (que está na minha antologia A Poesia é para Comer) e de um delicioso haikai, modalidade em que é mestra consagrada:
I.
SEM RECEITA*
Primeiro, lenta e precisamente, arranca-se a pele esse limite com a matéria. Mas a das asas melhor deixar pois se agarra à carne como se ainda fossem voar. As coxas, soltas e firmes, devem ser abertas e abertas vão estar e o peito nu com sua carne branca nem deve lembrar a proximidade do coração. Esse não. Quem pode saber como se tempera um coração? Limpa-se as vísceras, reserva-se os miúdos para acompanhar. Escolhe-se as ervas, espalha-se o sal, acende-se o fogo, marca-se o tempo e, por fim, de recheio, a inocente maçã, que tão doce, úmida e eleita nos tirou do paraíso e nos fez assim: sem receita
II.
Lembra aquele beijo
Corpo alma e mente?
Pois eu esqueci completamente