Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2009

Lapsus Linguae

João Paulo Cardoso

 

 

O que fazer depois de morrer

 

Hoje em dia, os chamados "livros de auto-ajuda"cobrem todas as áreas:

"Como Despachar o seu Marido", "Os Segredos do Segredo do Segredo para Além do Segredo", "A Cura Através das Conchinhas de Praia", etc, etc, etc.

Etc.

Et cetera.

Idem.

Ibidem.

Et pluribus unum.

Há dias vi numa livraria o seguinte título:
"O Que Fazer Depois de Morrer"
A sério, este existe mesmo.
Craig Hamilton-Parker é o autor.

O que pode levar à seguinte situação:

Cemitério de Carnide.
Lisboa.

"Olha... engraçado.
Está tudo às escuras aqui e parece que estou dentro de uma caixa...
Bem... vou levantar-me porque tenho mais que fazer."

Forte cabeçada com direito a palavrões Hugo Chavianos.

"Chiça!!
Tu queres ver que eu morri?
Olha que chatice!
Como é que será que ficou o resultado do Sporting ontem?"


Breves momentos de silêncio para pensar na vida que passou depressa demais.

"O que é que eu faço agora?"

Várias batidinhas de percussão e um som estúpido a imitar uma guitarra portuguesa.

"Povo!
Que lavas no riooooooooo!!!!!
E talhas com o teu machado!
As tábuas do meu caixãoooooo."

Outra vez o som ridículo a imitar guitarra portuguesa.

"Pode haver quem te defenda!!!
Quem compre o teu chão sagradoooooo!!!!
Mas a tua vida não!"Pausa para tirar um burrié e colá-lo no tampo do caixão.

Espirro, sem a habitual réplica "santinho".

Valente traque e vontade de abrir uma janela.
Não há.
Paciência.
Cá se fazem, cá se cheiram.

"É verdade!
Onde é que está aquele belo livro do Craig Hamilton-Parker?"

Prospecção no bolso do casaco onde encontra um terço, bilhetinhos escritos por alguém e um rebuçado Dr. Bayard.

"Olha, um rebuçadito.
Ainda bem.
Estava a morrer de fome."Outro espirro.

"Mau!!
Queres ver que estou a chocar uma gripe?"

Mais iniciativas de prospecção.

"Não encontro a merda do livro.
Estou lixado com isto!
O que é que eu faço agora?"

Agora sou só eu que venho aqui escrever que, se não estão a gostar, isto está quase a acabar.
Ah! O nosso herói encontrou o seu telemóvel.

O dele.

O que é que o seu telemóvel estaria a fazer dentro de uma urna no cemitério de Carnide?
Vamos lá a não ser parvos.
"Deixa-me lá ligar para a Maria a ver se ela vem cá trazer a merda do livro."

Vendo computador e impressora usados.
Bom preço.

"Não tenho rede, é o costume!
Isto assim não há condições, para o ano não venho para aqui."

***********
Se gostou deste post-mortem (trocadilho genial, n'est-ce pas?) deve estar mortinho para comentar, não?

 

Etiquetas:
publicado por Ana Vidal às 09:15
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11 comentários:
De João Paulo Cardoso a 13 de Fevereiro de 2009
Achei este texto hilariante.

Este senhor, que desconheço em absoluto, é dono de uma imaginação prodigiosa e de um sentido de humor único, ritmado, contundente, ao mesmo tempo perverso e inocente.

Espero que tenha um futuro brilhante ou, em alternativa, um futuro assim-assim mas que durasse até aos 110 anos.

Ainda hoje, no seu blog "O Eldorado", este brilhante escritor que, repito, desconheço por absoluto, publicou um texto brilhante sobre namorados azarados, demonstrando que alia às suas imensas qualidades, a sagacidade e a oportunidade de dissecar duas datas... estúpidas, de uma só penada.

Muito bom, este JP.
De Ana Vidal a 14 de Fevereiro de 2009
Muito bom mesmo, este JP. E muito modesto também, benza-o Deus.
Boa estreia, hein?
Um beijo.

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