Sábado, 31 de Janeiro de 2009

Claves de sempre

 

Manuel Fragoso de Almeida

 

 

A lição de uma vedeta

 

Conto-vos hoje uma história real, que calou fundo no meu coração de rapazinho caminhando para a maioridade…

 

Já foi há muitos anos, julgo que em  finais dos anos 60, nos primeiros concertos a que assisti e seguramente também dos primeiros concertos do agora demolido Pavilhão de Cascais.

 

A estrela do concerto era a Joan Baez, que por essa altura era, sem dúvida, uma das vozes que mais ouvíamos, não só por causa das melodias e textos, mas também pelas intervenções cívicas e atitudes políticas que a afirmavam na contestação da politica americana, com realce para a guerra do Vietname.

 

Chegámos cedo a Cascais.

 

Na altura nem sequer carro tínhamos, por isso a algazarra, a alegria, os ditos e as brincadeiras foram o entretenimento da viagem de comboio, o que se prolongou pela longa espera a que fomos obrigados dada a multidão que ocorreu a um pavilhão completamente à pinha. Na altura, concertos musicais com vedetas estrangeiras, talvez houvesse um por ano…

 

Na primeira parte tocava um conjunto português, cujo nome não me recordo, mas que não era muito conhecido (ou, para ser mais preciso, eu não o conhecia, seguramente). Por isso, o atraso com que conseguimos entrar não nos preocupou por aí além. Mas a meio desta primeira parte do espectáculo, aconteceu o imprevisto: faltou a electricidade. Ao tempo, não era um facto assim tão inédito, mas para além de deixar toda a assistência às escuras, impediu a continuação da actuação do grupo português e fazia crer os mais pessimistas que a noite acabaria ali e de Joan Baez , nada…

 

O que se seguiu foi contudo memorável, sobretudo para aqueles que se sentiam atraídos pelas palavras de solidariedade, paz, verdade, amor, e tinham o seu ideário de liberdade.

 

Sem poder tocar os seus instrumentos eléctricos, somente o baterista do conjunto português ficou em palco. Mas Joan Baez salvou a situação, improvisando espontaneamente com ele uma batida ritmada que lhe permitiu dançar à luz dos isqueiros que prontamente se acenderam por todo o Pavilhão, nas mãos dos espectadores incrédulos mas delirantes.

 

Foram 10 ou 15 minutos, mas, com este acto, aquela vedeta renomada salvou a face a um desconhecido grupo português que foi aplaudido em conjunto com ela no final do que pôde ser a sua actuação, agora já com a luz regressada ao pavilhão. Salvou uma organização que poderia ter sido posta perante uma debandada do público, sem esperança que a electricidade regressasse a tempo, e sobretudo deu-nos a todos uma lição de humildade, de solidariedade, companheirismo e coerência, de que nunca mais me esqueci. Ficou-me na memória para sempre a imagem de Joan Baez a dançar ao som somente duma bateria, e à luz de um sem número de isqueiros.

 

Não me lembro já do espectáculo que se seguiu…

 

Deixo-vos com um dueto dela e o Bob Dylan, também bem antiguinho, e com uma canção imortal: Blowing in the Wind. Espero que gostem de recordar!

 

Manuel Fragoso de Almeida

 

Etiquetas:
publicado por Ana Vidal às 17:53
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23 comentários:
De Manecas a 1 de Fevereiro de 2009
Pois é, ele realmente tem dias...

Mas foram um casal, logo não fica mal recordá-los em conjunto...
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Pois é, ele realmente tem dias... <BR><BR>Mas foram um casal, logo não fica mal recordá-los em conjunto... <BR><BR class=incorrect name="incorrect" <a>Bjs</A>
De Manecas a 1 de Fevereiro de 2009
Vamos lá a ver se agora funciona...

Pois é, ele realmente tem dias...

Mas foram um casal, em tempos, pelo que não faz mal recordá-los em conjunto...

Bjs

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