Conto-vos hoje uma história real, que calou fundo no meu coração de rapazinho caminhando para a maioridade…
Já foi há muitos anos, julgo que em finais dos anos 60, nos primeiros concertos a que assisti e seguramente também dos primeiros concertos do agora demolido Pavilhão de Cascais.
A estrela do concerto era a Joan Baez, que por essa altura era, sem dúvida, uma das vozes que mais ouvíamos, não só por causa das melodias e textos, mas também pelas intervenções cívicas e atitudes políticas que a afirmavam na contestação da politica americana, com realce para a guerra do Vietname.
Chegámos cedo a Cascais.
Na altura nem sequer carro tínhamos, por isso a algazarra, a alegria, os ditos e as brincadeiras foram o entretenimento da viagem de comboio, o que se prolongou pela longa espera a que fomos obrigados dada a multidão que ocorreu a um pavilhão completamente à pinha. Na altura, concertos musicais com vedetas estrangeiras, talvez houvesse um por ano…
Na primeira parte tocava um conjunto português, cujo nome não me recordo, mas que não era muito conhecido (ou, para ser mais preciso, eu não o conhecia, seguramente). Por isso, o atraso com que conseguimos entrar não nos preocupou por aí além. Mas a meio desta primeira parte do espectáculo, aconteceu o imprevisto: faltou a electricidade. Ao tempo, não era um facto assim tão inédito, mas para além de deixar toda a assistência às escuras, impediu a continuação da actuação do grupo português e fazia crer os mais pessimistas que a noite acabaria ali e de Joan Baez , nada…
O que se seguiu foi contudo memorável, sobretudo para aqueles que se sentiam atraídos pelas palavras de solidariedade, paz, verdade, amor, e tinham o seu ideário de liberdade.
Sem poder tocar os seus instrumentos eléctricos, somente o baterista do conjunto português ficou em palco. Mas Joan Baez salvou a situação, improvisando espontaneamente com ele uma batida ritmada que lhe permitiu dançar à luz dos isqueiros que prontamente se acenderam por todo o Pavilhão, nas mãos dos espectadores incrédulos mas delirantes.
Foram 10 ou 15 minutos, mas, com este acto, aquela vedeta renomada salvou a face a um desconhecido grupo português que foi aplaudido em conjunto com ela no final do que pôde ser a sua actuação, agora já com a luz regressada ao pavilhão. Salvou uma organização que poderia ter sido posta perante uma debandada do público, sem esperança que a electricidade regressasse a tempo, e sobretudo deu-nos a todos uma lição de humildade, de solidariedade, companheirismo e coerência, de que nunca mais me esqueci. Ficou-me na memória para sempre a imagem de Joan Baez a dançar ao som somente duma bateria, e à luz de um sem número de isqueiros.
Não me lembro já do espectáculo que se seguiu…
Deixo-vos com um dueto dela e o Bob Dylan, também bem antiguinho, e com uma canção imortal: Blowing in the Wind. Espero que gostem de recordar!
Lembro-me bem desse concerto, como aliás de todos os que havia naquela época. E também do Velho Hotel que acabou por arder ao som de muitos eventos também e de outras coisas que só a Linha do Estoril tinha para oferecer. E como era divertido ir de combóio, à boleia, dormir em casa deste ou daquele. Parabéns pelo post e pela recordação de boa gente e de boa música.
Eu também guardo o bilhete. A banda, se a memória não me atraiçoa, era os Charanga, das Caldas da Rainha, muito na linha dos Trovante, cujo teclista, Manuel Faria, lhes produziu o primeiro (e provavelmente único) álbum.
Destes dois cantores conheço mais por ouvir falar aos irmãos ( embora tenha comprado há tempos « Diamonds and Rust» da Joan, de que gosto muito- aquela «Jesse»! ), mas pelo que li recentemente, enquanto ela continuou a ser uma Senhora, já ele...
Mas foram um casal, logo não fica mal recordá-los em conjunto...
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Pois é, ele realmente tem dias... <BR><BR>Mas foram um casal, logo não fica mal recordá-los em conjunto... <BR><BR class=incorrect name="incorrect" <a>Bjs</A>
Também no Brasil ouvíamos Joan Baez. A música de protesto latina estava em alta, a ditadura matando, prendendo, torturando. Gracias a la Vida; Me Recuerdo Amanda; sabíamos todas as músicas e letras. Além dela, Violeta Parra e Mercedes Soza, eram as rainhas que cantavam o que queríamos dizer. Muito bem lembrado! Abraços
Tenho três irmâs mais velhas, uma delas a dona do blog (a do meio das tais três). Mas, por incrível que pareça, Joan Baez foi-me apresentada pela nossa tia, hoje com 87 anos, na altura com menos 25. E esta, hein?
PS - Por elas (irmãs), e para defesa delas, conheci a música com que me identifico hoje.
Olha a pirralha... Brel, Moustaki (com i), Baez, Brassens, Reggiani, etc, eram os nossos middle names, miúda. Os outros eram só para namorar e dançar, que a nossa vida era uma animação!
Era um outro tipo de sentido de estrelado e eram outros tempos, com mais «amadorismo» (no melhor sentido da expressão) ou simplicidade técnica. Não vi esse concerto, mas lembro-me de uma «revoada» deles que fizeram História, começando pelo dos Génesis, em 197…, que foi muito marcante.
E essa primeira fase dos Genesis, é que é realmente a marca do grupo, com o Peter Gabriel como vocalista, e em que o Phill Collins era somente baterista...
Muito bem, caro neo-soprador. Vejo que já estás ambientado. Saio de fininho e deixo-te com os teus comentadores, que bem podes tratar com muito carinho porque são o luxo deste blogue! Beijo ;-)