Tive a sorte de apanhar hoje, por acaso, um programa do canal Mezzo dedicado a Maxim Vengerov, considerado o maior violinista da actualidade e um dos maiores de todos os tempos. Foram quase três horas da melhor música, tocada com um virtuosismo raro por um homem simples, humilde e de uma simpatia contagiante. Um músico de tal maneira extraordinário que corre o mundo a ensinar a sua arte a jovens violinistas que demonstrem talento e muita vontade de aprender. Por esta generosidade rara num músico do seu nível, foi nomeado embaixador da Unicef para a música.
Mas tive outra sorte ainda maior, há cerca de quatro anos (sou uma mulher de sorte, reconheço-o sem qualquer hesitação): a de tê-lo visto e ouvido ao vivo - numa sala do Palácio de Queluz - num inesquecível e restrito recital que precedeu as audições que vinha fazer a jovens portugueses. Por muitos anos que viva ainda, sei que não se apagará da minha memória a lembrança desse fim de tarde mágico.
Maxim Vengerov, pelo seu lado, teve a sorte de nascer na Rússia, um país que - com todos os terríveis defeitos que possamos apontar-lhe - sempre soube reconhecer e dar oportunidades aos seus talentos. Das mãos grandes, rudes e aparentemente desajeitadas deste camponês da Sibéria (até hoje não perdeu esse arcaboiço rural, que contrasta estranhamente com a delicadeza da sua sensibilidade) saem sons sublimes que julgamos impossível serem extraídos de um instrumento musical. Mas o instrumento que ele toca não é um violino qualquer. Vengerov teve também outra sorte: por ser de tal maneira especial foi-lhe oferecido, por uma mecenas japonesa multimilionária, um dos raríssimos Stradivarius que a senhora acabara de adquirir num leilão em Nova Iorque. O gesto foi de uma generosidade imensa (os valores a que ascendem estes violinos são astronómicos), e o argumento que ela apresentou revela uma sensibilidade rara: preferiu saber a sua preciosidade entregue em mãos que a merecessem e a fizessem reviver, do que tê-la exposta, inerte, numa vitrine ou num cofre de banco. Chama-se Ex-Kreutzer (os Stradivarius são tão poucos que todos têm nome) o pequeno violino barroco cor de mel, que parece às vezes não aguentar as emotivas interpretações do seu dono.
Escolhi estes sete videos, encontrados no You Tube, resistindo à tentação de colocar aqui outros tantos. Os primeiros revelam o virtuosismo de uma criança e de um jovem músico, os seguintes o esplendor da sua maturidade musical. E o último mostra a faceta humana de um artista verdadeiramente excepcional. Espero que gostem, pelo menos tanto como eu.
(Sonata - Bach)
(Caprice - Paganini)
(Concerto - Dvorak)
(Caprice - Saint-Saens)
(Violin Concertos - Mozart)
(Vocalise - Rachmaninov)
(Masterclass)
(Nota: Com excepção de dois deles, os videos são de curta duração)