Chega-se e nem por um segundo se duvida: abriram-se para nós as portas de um paraíso perdido, de um mundo de brumas e de lendas suspensas no tempo. Somos os atónitos visitantes a quem foi dado o supremo privilégio de conhecer - pelo menos uma vez na vida - um dos últimos redutos mágicos do planeta. Sim, estamos na Atlântida.
Numa ilusão de realidade temporal, bebemos um gin tonic no Peter, mergulhamos nas mornas mas tormentosas águas das piscinas naturais, petiscamos um peixe fresquíssimo ou passeamos pelas estradas debruadas a hortenses. Para não perdermos o pé, agarramo-nos desesperadamente às tábuas de salvação daquilo que dominamos, dizendo que o que nos amolece é o inacreditável grau de humidade, o que nos confunde é o ócio, o que nos deixa mudos é o estranho silêncio. Mas não nos iludamos: o que verdadeiramente nos subjuga, reduzindo-nos à condição de deslumbradas formigas, é a força esmagadora da Natureza, em todo o seu esplendor. É sermos tocados por uma espécie de benevolente sorriso de uma entidade infinitamente maior do que nós, que nos permite, magnânima, levantar a ponta do véu dos seus mistérios insondáveis e penetrar na antecâmara - não mais do que na antecâmara - do seu reino de glória.
Vir aos Açores é aprender uma lição sobre o assombroso poder da Terra-Mãe: disfruta-me, admira-me, maravilha-te, mas nunca te esqueças de que amanhã tudo isto que vês poderá desaparecer para sempre, tal como surgiu aos teus olhos.
Vir aos Açores é entender a nossa verdadeira dimensão. O negrume recortado da lava basáltica, o luminoso verde que cobre cada centímetro de terra, o azul profundo do atlântico, não são mais do que engodos. Esta espantosa beleza não é gratuita: o preço é vermo-nos ao espelho da nossa insignificância.
De
Julia a 18 de Agosto de 2008
... ver os Açores através dos teus olhos ele ainda fica mais bonito.
belo texro, amiga!
Ainda bem que já te deste conta de tudo isso. Muito bonito o teu texto!
Os Açores têm a perfeição do paraíso que quase sempre julgamos perdido, mas têm a magia do que nos é próximo... os verdes e os azuis, as hortenses (tal como na casa da minha avó!), as águas... estamos quase sempre na fronteira, entre o sonho e a realidade... que saudades!
beijinhos e boas férias
Sim, é verdade que estamos sempre na fronteira por aqui. Tudo parece mesmo um sonho, comparando com a destruição que se vê por todo o lado.
O postal já seguiu, miúda.
Beijos para a família de citrinos!
De
Meloes a 18 de Agosto de 2008
depois de ler isto aindo fico com mais vontade das ferias. Ja estao marcadas ai mesmo dentro de duas semanas.
Beijos
Cumprindo uma tradição antiga da casa (mensagens entre viajantes) deixei hoje no Peter, na Horta, uma mensagem para ti. Só tens que pedi-la quando lá chegares (ficou em nome de Melões Melodia) e beber um gin tonic à minha saúde!
Um beijo e boas férias, que vais adorar.
... e eu que fiquei para trás,
a ver-vos partir,
acenando um adeus baixinho
porque era tão alto
o meu chorar
R
...abraça-me ...e não me digas nada ....
eh eh eh
Grande poeta é o povo, Ritz...
Para a próxima não hás-de ficar em terra, prometo...
Beijinhos... e acaba as músicas!
Doces Açores, que saudades...
Ainda só estive em S. Miguel, em dois verões consecutivos, mas fiquei rendido para sempre.
Pena o paraíso, mesmo que nosso, português, às vezes com sotaque cerrado, custar tão caro.
Beijos e se puderes traz uma daquelas vaquinhas para eu pôr na varanda.
Adoro o leite dos Açores!
JP, não bebo leite mas a manteiga dos Açores é uma delícia. A vaquinha é que vai ser difícil...
Para a próxima viagem aos Açores recomendo-te o Pico - um verdadeiro diamante ainda em bruto - e, dizem-me, as Flores, que ainda não conheço. (no Pico não há sotaque, é engraçado...).
Tens razão quanto ao preço mas percebe-se que as férias aqui não possam ser muito baratas, pelo alto custo que tem fazer chegar tudo aqui, ao meio do oceano. E até é bom que seja caro, de contrário isto estraga-se muito mais depressa.
De Luísa a 18 de Agosto de 2008
Também me fez muitas saudades dos Açores e daquilo que parece oferecer ainda em «bruto», Ana. Continue as suas maravilhosas descobertas e não deixe de as partilhar connosco. Mas não procure a porta da Atlântida, que, ao que contam o Blake & Mortimer, dá para caminhos perigosos e soturnos, e os sobreviventes do naufrágio do continente já de lá se foram para outras paragens cósmicas. ;-)
É isso que é mais espantoso aqui, Luísa: o homem não conseguiu (ainda?) dominar a natureza, ou a construção tem sido bem orientada. Até em S. Miguel, a ilha mais cosmopolita, tudo está bem integrado na paisagem, que é deslumbrante. É muito bom descobrir que ainda há sítios assim, e, melhor ainda, que são portugueses.
Quanto à Atlântida, acho que tem razão... o melhor é não procurar muito as portas, que parecem estar por todo o lado...
De psb a 18 de Agosto de 2008
Ana
Não tive oportunidade de te desejar boas férias. Mesmo sem este meu voto, sei que o estão a ser, a avaliar pela descrição, belíssima, como sempre, de fazer inveja ao Eça, e a mim que nunca aí estive e adorava conhecer. Há-de ser qualquer dia.
Diverte-te, aproveita, renova a alma nessa imensa beleza e manda-nos notícias.
Beijinhos.
A net aqui é intermitente, mas vou dando notícias sempre que puder.
Não deixes de conhecer os Açores, Pedro, é imperdível.
Um beijo
Querer estar aí também :)
Seis ilhas desconhecidas ainda...
Notícias dessa terra azul é o que lhe pedimos, Ana ...
Beijinho
Vou dand0, Cristina, sempre que a net o permitir...
Beijinho
De
Maria a 19 de Agosto de 2008
> Vir aos Açores é aprender uma lição sobre o assombroso poder da Terra-Mãe
E encontrar os portugueses mais humildes, honestos e simpáticos :)
Completamente de acordo, Maria. São rudes mas encantadores e têm-nos tratado com muito carinho. :)
só conheço sao migue.
tenho aprazada - pensada - uma viagem aos açores no proximo ano.
o seu texto está belissimo, e justo.
boas ferias.
SSV, não deixe de vir. É uma viagem que vale a pena, por todas as razões. :)
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