Quinta-feira, 10 de Julho de 2008

Poemas escolhidos - 6


 

 

SEM RECEITA

 

Primeiro, lenta e precisamente,

arranca-se a pele,

esse limite com a matéria.

Mas a das asas melhor deixar,

pois se agarra à carne

como se ainda fossem voar.

As coxas, soltas e firmes,

devem ser abertas

e abertas vão estar.

E o peito nu

com sua carne branca,

nem lembrar

a proximidade do coração.

Esse não.

Quem pode saber

como se tempera um coração?

 

Limpa-se as vísceras,

reserva-se os miúdos

para acompanhar.

Escolhe-se as ervas,

espalha-se o sal,

acende-se o fogo,

marca-se o tempo.

E por fim, de recheio,

a inocente maçã

que tão doce, úmida e eleita

nos tirou do paraíso

e nos fez assim:

sem receita.

 

(Alice Ruiz)

  

Para ouvir o poema musicado e cantado, clicar aqui.

 

Etiquetas: ,
publicado por Ana Vidal às 13:48
link
8 comentários:
De O Réprobo a 10 de Julho de 2008
Sirva-se quente ou frio!
O que importa é ter mão para a Cozinha.
Beijinho, Querida Ana
De Ana Vidal a 10 de Julho de 2008
Nem mais, Paulo. Mas quente é melhor ... ;)
Beijinho
De mike a 10 de Julho de 2008
Pobre maçã... também... é bem feito para ela. Tirou-nos do paraíso, estava à espera de quê? ;)
De Ana Vidal a 10 de Julho de 2008
Para castigo agora vira frangos, coitada... lol
De Cristina Ribeiro a 10 de Julho de 2008
Com lume bem brando, e devagar.
Beijinho
De Ana Vidal a 10 de Julho de 2008
Isso mesmo, Cristina... comme il faut para um bom cozinhado!
Beijinho
De Júlia a 10 de Julho de 2008

a poesia dela é pura sedução, eu gosto! Diz sem ser explicito,muito a meu gosto, já conhecia!




beijinho
De Ana Vidal a 10 de Julho de 2008
Também gosto muito da poesia da Alice. E dela também!
Beijinho

Comentar post

brisas, nortadas e furacões, por


Ana Vidal
Pedro Silveira Botelho
Manuel Fragoso de Almeida
Marie Tourvel
Rita Ferro
João Paulo Cardoso
Luísa
João de Bragança

palavras ao vento


portadovento@sapo.pt

aragens


“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez."

(Jean Cocteau)

portas da casa


Violinos no Telhado
Pastéis de Nada
As Letras da Sopa
O Eldorado
Nocturno
Delito de Opinião
Adeus, até ao meu regresso

Ventos recentes

Até sempre

Expresso do Oriente (3)

Expresso do Oriente (2)

Expresso do Oriente (1)

Vou ali...

Adivinhe quem foi jantar?

Intervalo

Semibreves

Pocket Classic (A Educaçã...

Coentros e rabanetes

Adivinhe quem vem jantar?

Moleskine

Lapsus Linguae

Semibreves

Sou sincera

favoritos

Fado literário

O triunfo dos porcos

E tudo o vento levou

Perfil


ver perfil

. 16 seguidores

Subscrever feeds