Quinta-feira, 26 de Junho de 2008

Observatório

 

 

E amanhã?

 

Estas últimas semanas têm sido reveladoras, uma vez mais, das nossas fragilidades estruturais enquanto País, e das mediocridades já habituais dos nossos governantes, no modo como enfrentam e resolvem as crises que nos afectam.

 

Para azar deles, nem a participação lusa no euro lhes deu muita oportunidade para o desvio das atenções, que a expectativa de uma permanência mais duradoura na competição deixava adivinhar. Foi como um fogo-fátuo de rico brilho e glamour ao princípio, para, sem ninguém esperar, se esfumar de repente numa desilusão sombria, no final. Até este Ministério do Ego Nacional acabava por não ajudar à(s) crise(s).

 

E o País voltou a acordar para a realidade de todos os dias, depois desta bebedeira de patriotismo, entre os aumentos sucessivos dos combustíveis, de bens alimentares, de transportes, das energias, de praticamente tudo do que depende a vida de cada um.

 

 

Assistimos, impávidos, ao bloqueio dos camionistas, com as consequentes dificuldades que nos trouxe a todos, sem ouvirmos, se não ao fim de quatro dias, uma atitude de alguém responsável que lhe pusesse cobro. Como é que umas dezenas de rufiões paralisam um País? Que País fica tão profundamente vulnerável com as acções pouco concertadas de parte de um sector profissional, que usou e abusou da liberdade individual de quem se lhe não quis associar, com comportamentos de organização criminosa que, por má sorte, até produziu uma vítima mortal?

 

A cedência a algumas reivindicações, como estratégia para resolver o problema e apagar o fogo, não é, seguramente, a melhor. Depois dos camionistas já se desenham movimentos entre os agricultores e os taxistas, que, também armados dos seus meios de produção, pensam na melhor forma de atingir os seus objectivos, manietando o Governo e o País com novas ameaças de bloqueios. O fogo só aparentemente está apagado. Fervilha em brasa por baixo das cinzas.

 

E assim vamos nós, sem cantar e sem rir, de bloqueio em bloqueio, de manifestação em manifestação, em crescente insatisfação social e sem respostas convincentes, cedendo aqui e ali que para o ano há aquilo que todos sabemos, pois quem não chora não mama!

 

Contraditoriamente, os valores dos endividamentos crescem sem parar, crescendo também os que não são pagos e que engrossam as estatísticas pouco abonatórias do crédito mal parado. Mas porque é que as instituições financeiras insistem em continuar a aliciar as pessoas com a ilusão do crédito fácil? E porque é que o Estado não se impõe, criando regras de mercado que evitem este descalabro?

 


Difícil é, cada vez mais, a sorte dos sem sorte. Até as instituições de solidariedade estão a braços com uma crise que não esperavam, naturalmente consequência de todas as outras, assistindo ao aumento dos ‘seus clientes’ sem terem meios para acudir a todos, e à diminuição dos contributos dos que as ajudavam, enredados também nas suas próprias dificuldades.

 

Que não estamos a caminhar para melhor, é uma realidade. Que os preços altos de matérias e de produtos vieram para ficar, é uma certeza. Que ninguém sabe (quem devia saber) dar a volta a estas duas verdades, é um facto consumado. Para mal dos nossos pecados!

 

Pedro Silveira Botelho

 

publicado por Ana Vidal às 00:05
link
26 comentários:
De mike a 26 de Junho de 2008
Nu e cru, caro Pedro, um texto que gostei de ler, para bem das minhas poucas virtudes e para mal dos muitos pecados de quem devia saber.
Um abraço.
De psb a 27 de Junho de 2008
Obrigado, Mike.
Um abraço

Comentar post

brisas, nortadas e furacões, por


Ana Vidal
Pedro Silveira Botelho
Manuel Fragoso de Almeida
Marie Tourvel
Rita Ferro
João Paulo Cardoso
Luísa
João de Bragança

palavras ao vento


portadovento@sapo.pt

aragens


“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez."

(Jean Cocteau)

portas da casa


Violinos no Telhado
Pastéis de Nada
As Letras da Sopa
O Eldorado
Nocturno
Delito de Opinião
Adeus, até ao meu regresso

Ventos recentes

Até sempre

Expresso do Oriente (3)

Expresso do Oriente (2)

Expresso do Oriente (1)

Vou ali...

Adivinhe quem foi jantar?

Intervalo

Semibreves

Pocket Classic (A Educaçã...

Coentros e rabanetes

Adivinhe quem vem jantar?

Moleskine

Lapsus Linguae

Semibreves

Sou sincera

favoritos

Fado literário

O triunfo dos porcos

E tudo o vento levou

Perfil


ver perfil

. 16 seguidores

Subscrever feeds