Sábado, 26 de Abril de 2008

Observatório



Atenção escrevinhadores: Atualizai-vos!

 

 

O Acordo Ortográfico entre os Países lusófonos está na ordem do dia. Guerrilha cultural antiga, data já de 1911 a primeira grande reforma da língua, então só adoptada por Portugal, uma vez que o Brasil se manteve de fora.

 

Por iniciativa da Academia do Brasil em 1931, tentou chegar-se a consenso através do 1º Acordo Ortográfico, mas não surtiu efeito. Em vários dos anos seguintes (43, 45, 71, 73 e 75), houve várias tentativas de aproximação, ora conduzidas por Portugal ora pelo Brasil, mas, invariavelmente, sem resultado, porque o não autor da iniciativa acabava sempre por boicotá-la.

 

Em 1986, já com a participação alargada aos cinco Países Africanos que hoje integram os PALOP – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe – foi Portugal quem inviabilizou novo Acordo, por não aceitar a abolição de alguma acentuação gráfica.

 

Porém, em 1990, lá se chegou ao acordo que traduz as regras da escrita hoje em uso na lusofonia, as quais são agora novamente depuradas para, no prazo de 6 anos, estarmos todos a escrever um linguajar igual.

 

O fato é que esta ação vai ter algumas objeções, de uns por razões afetivas, de outros por reação, apesar de mudarem só os carateres, uma vez que a dição se mantém quase inalterável. Deixou de se adotar uma coleção de consoantes mudas, ato que vai acionar a necessidade de se alterarem dicionários e compêndios de gramática, uma vez que o aspeto da grafia se altera, revolucionando o setor. A aceitação perentória destas mudanças não é pacífica. É quase batisar de novo a língua, dando origem a uma fatura que todos iremos pagar.  



Fica para ver qual será a receção exata do coletivo. Com algumas mudanças bastante sutis como as que hão de vir, cá estaremos para inspecionar como será que os novos atores da língua portuguesa se vão desenvencilhar.

 

O cenário futuro terá apoiantes que o caraterizarão como ótimo, outros como apocalítico. Desta arimética linguística, surgirá a conceção da forma de escrever em português, com atuais súditos a anistiarem as alterações introduzidas, outros a manterem incorrutível o cetro da onipotente grafia anterior, em suntuosa defesa de valores lusos, erguida em noturnas tertúlias clandestinas, sem admitirem exceções.

 

É de esperar que o caráter revolucionário destas medidas, leve os mais conservadores a berrar o mais alto que puderem pela sua não aplicação, até que as amídalas lhes doam...

 

Se a defesa da continuidade da língua portuguesa, utilizada neste imenso universo de milhões de falantes, passa pela assunção destas mudanças, que se há de então fazer? 


Pedro Silveira Botelho

Etiquetas:
publicado por Ana Vidal às 00:56
link
26 comentários:
De peri s.c. a 26 de Abril de 2008
Lançamos aqui o CRPH , Comando Revolucionário Pró-Hífen. Resistiremos até a última gota de tinta de nossas canetas-tinteiros.
De Ana Vidal a 27 de Abril de 2008
Oi, Peri, vejo que também não há grande acordo desse lado do Atlântico. Uma guerra de tinteiros... essa tem piada mesmo!
Um beijo

Comentar post

brisas, nortadas e furacões, por


Ana Vidal
Pedro Silveira Botelho
Manuel Fragoso de Almeida
Marie Tourvel
Rita Ferro
João Paulo Cardoso
Luísa
João de Bragança

palavras ao vento


portadovento@sapo.pt

aragens


“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez."

(Jean Cocteau)

portas da casa


Violinos no Telhado
Pastéis de Nada
As Letras da Sopa
O Eldorado
Nocturno
Delito de Opinião
Adeus, até ao meu regresso

Ventos recentes

Até sempre

Expresso do Oriente (3)

Expresso do Oriente (2)

Expresso do Oriente (1)

Vou ali...

Adivinhe quem foi jantar?

Intervalo

Semibreves

Pocket Classic (A Educaçã...

Coentros e rabanetes

Adivinhe quem vem jantar?

Moleskine

Lapsus Linguae

Semibreves

Sou sincera

favoritos

Fado literário

O triunfo dos porcos

E tudo o vento levou

Perfil


ver perfil

. 16 seguidores

Subscrever feeds